“Aleluia” do Jimmy P aterrou nas prateleiras de streaming depois de o artista ter lançado “Soba” e “Narrativa”. O clipe e a música foram apresentados na última terça-feira, 18, na Bela Vista, em Lisboa.
Ao contrário do que se possa pensar, o “Aleluia” de Jimmy P não está propriamente ligado ao significado “Louvem A Deus” ou a uma divindade cristã. Dito pelo próprio rapper numa entrevista durante a Listening Party privada da música, “Aleluia” chega a ser bastante pessoal porque tem a ver com a espiritualidade, forças do universo e energias criativas, estes e outros pontos que refletem a sua atual fase.
“[A música] ‘Aleluia’ tem a ver com o meu sentido de identificação, porque fui criado num lar cristão, mas não quer dizer que seja uma música religiosa. É sim uma música espiritual e é só um exercício de gratidão. Só isso. Eu acredito que hoje, mais do que nunca, sinto-me uma pessoa infinitamente abençoada e grata por tudo aquilo que tenho, seja materialmente, espiritualmente, financeiramente e acho que é importante fazer esse exercício de gratidão e ter o tempo de agradecer pelas coisas que tu tens. E então, o que essa música faz no fundo é fazer esse exercício dentro de um espectro em que há um equilíbrio entre aquilo que faço, que é o rap, e aquilo que me define como indivíduo, como artista, que são a minha ancestralidade, a minha espiritualidade, as minhas raízes, a história dos meus pais, dos meus avós. Então é uma música que tenta honrar um bocado estes elementos todos”.
Para quem acompanha Jimmy P, de certeza que já notou uma pequena mudança na sua musicalidade mais recente.
Tudo começou a partir do single “Nortada”, onde o artista trouxe um registro com uma instrumentalização mais afropop e cantada com um flow e métrica de rap. A seguir, chegou com uma mistura da mesma base com uns elementos do funk brasileiro; e agora com “Aleluia”, segue a mesma vibe do que o artista quer daqui para a frente.
Ao ouvir logo de primeira o sample das crianças a cantar no início de “Aleluia”, tem-se logo a impressão que, provavelmente, o que irá surgir é um boom bap, mas a música se sobrepõem de maneira oposta ao que se está à espera.
Jimmy disse que a instrumentalização foi “bem intuitiva” e que o Lazuli, que é o produtor responsável pela música, foi um dos responsáveis por esta magia. A história do sample nasceu quando Francisco Reis, produtor executivo do seu próximo álbum, foi assistir a um musical, de um coral escolar, em que a sua irmã participa.
“Ele [Francisco Reis] foi ver um musical e eles [os meninos do grupo coral] cantaram um trecho da música que dizia “aleluia”. E a música começa com uma cena que é samplada desse coro. E quando nós estávamos no meu estúdio, o Lazuli mostrou-me essa cena e eu disse ‘porra, temos que arranjar forma de colar esta cena e cortar este sample“, disse Jimmy.
Sobre a composição, se foi propositada ou não, Jimmy P disse que foi “sugestivo” e que assim que ouviu disse logo: “eu posso resumir a minha vida nesta cena”.
“Tento não pensar muito nas cenas que escrevo para ser o mais natural e mais espontâneo possível. A partir do momento que começa a pensar mais nas coisas, já estou a meter filters e depois estás a bloquear energia. Porque a música é acima de tudo energia que tu emanas. Mais do que a música que fazes, o que as pessoas consomem é energia e, quando sinto que estou a ter esses bloqueios, ok, paro. Mas como neste caso foi sempre tudo bem sugestivo, fui muito atrás daquilo que as músicas sugerem. Obviamente que há temas em que quero tocar, há linhas de raciocínio que quero seguir, há coisas que tenciono dizer, mas quero que essas coisas sejam ditas no contexto musical certo, senão depois de repente estás num beat bem uplifting, bem para cima, a falar de mambos que não condizem com aquilo. Por isso, tento sempre conduzir e ir atrás daquilo que a música sugere”, explicou Jimmy P.
Tecnicamente, Jimmy P trabalhou com Lazuli na composição da música e contou também com Reis na produção. O refrão teve o suporte de backvocals de Raissa Bherin, e teve duras adicionais também de Reis. A edição das vozes foi feita por Ricardo Ferreira e mixagem e masterização de André Tavares.
O clipe foi gravado próximo da natureza. “Aleluia” teve a direção de Wilsoldiers, direção fotográfica, colorgrading de Sebastian Crayn, makeup de Biggz Costa e o texto de manifesto foi de autoria de Namalimba Coelho.
Para o seu próximo álbum, Jimmy P avançou que até agora trabalhou com Lazuli, Reis e SuaveYouKnow na produção. Para participações, o artista disse que o álbum vai ter a participação de Heber Marques.
“Com o Heber Marques, fizemos um grande som juntos, uma cena mesmo, epá… Acho que é uma das merdas que eu mais me orgulho de ter feito até agora”, disse.
O artista disse que ainda não tem data prevista para lançamento e que está quase 70 por cento concluído. Entretanto, pretende lançar mais algumas músicas até ao dia da chegada do álbum.